A agenda dos “melancias”
Sexta-feira ensolarada e quente aqui no Rio (deve ser o aquecimento global), não sei exatamente o motivo (só sei que não deve ter nenhuma ligação com nosso cenário político-eleitoral), mas me deu muita vontade de resgatar a resenha do excelente livro Os Melancias, do jornalista James Delingpole. Lá vai:
A agenda dos “melancias”
“A tradição da esquerda é julgar o sucesso humano pelo fracasso de alguns. Isso sempre lhe fornece uma vítima a ser resgatada. No século XIX, eram os proletários. Nos anos 60, a juventude. Depois, as mulheres e animais. Agora, o planeta.” (Roger Scruton)
De tempos em tempos alguma histeria ambiental prega o apocalipse iminente e toma conta do mundo. A chuva ácida, o SARS, o buraco na camada de ozônio, os agrotóxicos, etc. Mas nunca se viu algo da magnitude do aquecimento global. Trata-se de uma nova seita religiosa que vem conquistando cada vez mais adeptos. Por trás dela, jaz uma agenda político-ideológica de controle sobre nossas vidas, com fortes cores de misantropia.
É o que demonstra James Delingpole em seu excelente livro “Os Melancias”. Um dos primeiros a divulgar o escândalo do “Climategate”, quando vazaram vários emails comprometedores de gente importante do CRU (The Climatic Research Unit), Delingpole acabou vendo sua vida se transformar em uma obsessão pelo tema climático. Após meses de pesquisas, sua conclusão, calcada em fatos e confissões dos próprios ambientalistas, é inapelável: o movimento ambientalista se tornou um refúgio para socialistas. Verde por fora, vermelho por dentro.
Não se trata de teoria conspiratória, mas de declarações abertas dos mais renomados membros da nova seita. O Clube de Roma, um dos ícones da turma, chegou a publicar um documento em 1991 que já declarava o objetivo de unir em torno do alarmismo climático aqueles que teriam um novo inimigo comum: a própria humanidade. O homem passaria a ser visto como a maior praga de todas, o grande obstáculo para um mundo melhor, com a nova deusa Gaia assumindo seu lugar no ranking das prioridades. A Natureza passava a ser o foco, enquanto antes a natureza era um instrumento para o progresso humano.
Freud, escrevendo em 1921 sobre a psicologia das massas, já tinha antecipado o risco de novas seitas tomarem o lugar das religiões e servirem como estímulo para a violência. Até mesmo a ciência poderia se tornar mais religião que realmente ciência. Esta passagem do pai da psicanálise é profética quando pensamos na captura dos cientistas ligados ao clima pela agenda política da ONU e seus burocratas:
Se hoje a intolerância não mais se apresenta tão violenta e cruel como em séculos anteriores, dificilmente podemos concluir que ocorreu uma suavização nos costumes humanos. A causa deve ser antes achada no inegável enfraquecimento dos sentimentos religiosos e dos laços libidinais que deles dependem. Se outro laço grupal tomar o lugar do religioso – e o socialista parece estar obtendo sucesso em conseguir isso –, haverá então a mesma intolerância para com os profanos que ocorreu na época das Guerras de Religião, e, se diferenças entre opiniões científicas chegassem um dia a atingir uma significação semelhante para grupos, o mesmo resultado se repetiria mais uma vez com essa nova motivação.
Delingpole chama a atenção para o fato de que, quando se trata do aquecimento global, os argumentos deixaram de ser julgados por seus méritos, passando a ser considerados apenas com base nas emoções e na pauta ecologicamente correta. A linguagem não é mais científica, mas religiosa. Os céticos são os “negacionistas”. Aqueles que ousam questionar são ofendidos e rotulados. Os ecoterroristas monopolizaram as boas intenções. Somente eles desejam um mundo melhor e “sustentável”, palavra mágica da seita. Há os profetas, como Al Gore, e a mensagem escatológica. Precisamos salvar o planeta do homem. E já!
Uma das táticas mais usadas pelos ambientalistas é o apelo à autoridade. Quem você pensa que é para questionar o IPCC? Ignora-se o alerta feito por Hayek, de que nossa liberdade fica ameaçada quando aceitamos sem críticas e questionamentos os especialistas tomarem todas as decisões sobre problemas que eles mesmos sabem apenas uma ínfima parcela. Clima é um fenômeno deveras complexo para ser projetado com modelos simplistas que aceitam qualquer coisa.
Ignora-se também a grande lista de cientistas que discordam do alarmismo climático. Estes são tratados como “lacaios da indústria petrolífera” ou simplesmente ignorados. Mas não se fala da enorme quantidade de recursos em jogo do lado dos alarmistas (o WWF teve uma renda acima de US$ 640 milhões só em 2010), do conflito de interesses desses cientistas cujas carreiras e verbas estatais muitas vezes dependem justamente desse alarmismo.
O ambientalismo se transformou em um gigantesco negócio. E como os emails vazados pelo “Climategate” comprovam, os principais cientistas envolvidos na causa parecem dispostos a tudo para preservá-la, inclusive mentiras, deturpações estatísticas e pressão contra os dissidentes. Não é assim que se faz ciência de verdade.
Esse talvez seja um dos efeitos indiretos mais negativos disso tudo: a perda da confiança na própria ciência. Quando cientistas, que supostamente procuram refutar suas teses de forma imparcial (eis o método científico), começam a agir como políticos engajados, a ciência perde credibilidade. Ativistas políticos não são bons cientistas. E o IPCC da ONU virou um antro de ativistas.
Muitos aceitam que pode haver exagero no alarmismo, mas que por precaução os governos devem agir na direção atual para conter as emissões de CO2. Essas pessoas ignoram que há elevado custo de oportunidade para recursos escassos. Não se redireciona recursos escassos para uma possível invasão alienígena, pois isso representaria enorme desperdício. Mas isso não é o pior.
O que Delingpole demonstra é como o próprio progresso capitalista representa o verdadeiro alvo dos ecoterroristas. O que eles querem, acima de tudo, é justamente condenar o desenvolvimento econômico ocidental e “resgatar” um estilo de vida mais “natural”, como se a vida fosse melhor antes da Revolução Industrial, quando a expectativa média de vida não passava dos 40 anos e as doenças pululavam. Aqui, como alhures, vemos o teor religioso do movimento, que idealiza um passado inexistente e busca o regresso ao Éden. Será que eles sabem porque as florestas costumam ser chamadas também de “inferno verde”?
Nada disso importa. Os “escolhidos” possuem um monopólio sobre a verdade, os céticos são hereges, Gaia é a deusa a ser reverenciada, o homem é uma praga, o apocalipse está próximo se nada for feito, e eles, os melancias, chegaram para nos salvar! A sensação de superioridade moral por pertencer a este culto religioso vale mais do que a busca sincera pela verdade. As emoções falam mais alto que a razão.
O problema é que a seita causa enorme impacto na vida de todos. A democracia fica ameaçada. Uma Nova Ordem Mundial, com o poder concentrado nos burocratas sem rosto da ONU, representa uma meta real dos melancias. Recursos são desviados para uma causa furada. Impostos são aumentados destruindo riqueza. O homem passa a ser visto como um vírus inconveniente na Natureza, esta a verdadeira finalidade de tudo. É esse mundo que queremos deixar para nossos filhos? Um mundo onde eles são menos importantes que baleias e sapos?
O livro de Delingpole é rico em dados sobre as verdadeiras crenças por trás do atual movimento ambientalista radical. Existem vários outros livros sobre o assunto, com viés mais científico. “Os Melancias” não pretende contestar cientificamente a tese do aquecimento global antropogênico, mas sim demonstrar, jornalisticamente, como a fraude tomou conta da causa. E Delingpole faz isso de forma irretocável, além de rechear as páginas com o fantástico humor inglês. Trata-se de um livro imperdível que deve ser lido na íntegra por todos aqueles preocupados com o progresso e a liberdade.
Rodrigo Constantino
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/politica/a-agenda-dos-melancias/
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